Encontro de Saberes ARTES/UFRGS

Afrodescendentes

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    NOTÓRIOS SABERES - PARECER DO ALUNO RAFAEL IGNÁCIO PACHECO CORRÊA - GRUPO 3 - ENCONTROS DE SABERES - ART3946-U - ARTES/UFRGS - 2025-1 por CESAR AUGUSTO BORBA - segunda-feira, 9 jun. 2025, 04:30 Número de respostas: 0 Notórios Saberes, O que são?

    Quando se fala de notórios Saberes, falamos de um conhecimento técnico, tecnológico, intelectual que não precise de um diploma que o comprove, pois esse advém de anos de experiencias e vivencias. Este título é concebido especificamente para os mestres e mestras dos saberes dos povos e comunidades tradicionais (indígenas, afro-brasileiros, quilombolas, das culturas populares, entre outros). A sociedade ao qual vivemos mergulha na influência ocidental, estado-unidense e principalmente europeia, essa que impõe ao seu colonizado seus padrões que desconsidera, desvaloriza e despreza o saber ancestral, o saber falado ou o saber notório através da oralidade, essa praticada pelos diversos povos originários do Brasil com milhares de anos de experiência passada de geração para geração. Os guaranis, tupi, tapuia, krenak, dassano, entre outros. Todos com suas origens cosmológica, filosofias de vida, técnicas de cultivo, construção e artesanato, como pode todo esse saber ser deslegitimado por simplesmente não estar preso a uma folha com palavras, encaixotado em um livro, preso ao acaso de ser redescoberto. A oralidade compartilha esse saber com todos, pois todos devem ao conhecer para passar adiante seus ensinamentos. Um saber imemorial, dotado de tamanha espiritualidade, experiência e informação é ainda muito debatido e retido dentro da academia que foca suas epistemologias em grande parte por meio de livros, artigos, jornais, testemunhos, etc. Ou seja, tudo aquilo não escrito é desconsiderado nessa equação. Entretanto engana-se quem pensa que a oralidade por não possuir essa escrita não é ciência, pelo contrário, aqui, a epistemologia dos povos originários é a sua experiencia, essa que é coletiva, compartilhada e ensinada com os Saberes ancestrais que cada povo possui, esse saber é sua história, cultura, tradição, identidade como povo e indivíduo. Esse é um movimento que entra em luta com a colonização da educação (e a implementação do próprio encontro de saberes como um desses mecanismos de luta), o conhecimento se tornou tudo aquilo que é escrito (nos padrões e moldes eurocêntricos). Mesmo considerando seus Saberes, ainda são muito restringidos e sofrem de desprezo pela visão colonizadora do saber, para esses é imprescindível que os povos originários possam nos ensinar algo sem ser escrito.

    Desde 2008 com a Lei nº 11.645 ao qual adicionou a Lei nº 10.639 de 2006 a obrigatoriedade do ensino da cultura afro-brasileira e africana (2006) e posteriormente indígena (2008) na educação básica. O que vimos ao longo dos anos de vigência dessa lei foram mudanças significativas no currículo, didática e formação de professores, sem dúvida houve uma mudança positiva, mas não substancial que abrange todo o Brasil, e sim pontos de foco nas capitais e regiões metropolitanas, com ainda muito trabalho a ser feito nas regiões interioranas e maior força necessária para se fazer um currículo e material didático pelas mãos de educadores e não por “burocratas estatais”. Notamos como houve uma mudança importante com a implementação da lei, mas de fato ela não perfurou a raiz do problema, como educar e partilhar conhecimento das culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas sem mestres e mestras dessas mesmas culturas na educação básica? Como ensinar as crianças e adolescentes sobre a história desses povos sem cair em uma narrativa eurocêntrica colocando sob seu véu o olhar de povos “exótico”, atores políticos e históricos passivos, alocados como um povo sem história? A luta desses povos permanece, essa é a luta antirracista, a luta anticolonialista, a luta para existir e serem reconhecidos como humanos íntegros com direitos de assentar-se em sua terra ancestral.