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Notório saber, do texto de Jorge Carvalho.
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Nesse texto o autor pondera sobre a concessão de título de Notório Saber para os mestres e mestras dos saberes tradicionais, aqueles saberes que não se originaram nos meios acadêmicos mas que são verdadeiras fontes de cultura e história, pois são referências que se perpetuam através dos tempos, passando de geração em geração. Não se trata de conhecimento formal, pois a maioria dos mestres e mestras tradicionais possui apenas o ensino básico e muitos deles não têm sequer o ensino fundamental.
Sendo assim, “mestre ou mestra não é apenas quem domina uma determinada área de conhecimento (e na universidade é isso que justamente define um docente), mas alguém que foi colocado na condição de transmissor do conhecimento que encarna, colorindo-o com uma conotação de singularidade – e por isso mesmo, insubstituível”:
“(...) os mestres e mestras são aqueles cuja senioridade é inequívoca, confirmada pela sua biografia, reveladora das evidências de seu reconhecimento, dentro e fora da sua comunidade; assumem a missão de ensinar o que sabem, e por isso têm discípulos, assistentes, seguidores ou aprendizes, todos eles plenamente formados e em condições de assumir futuramente o papel de novos mestres; são pesquisadores; e do mesmo modo que nós, pesquisadores acadêmicos, ampliam constantemente os saberes que dominam; dada a profundidade do seu saber, os mestres podem ser comparados aos nossos catedráticos ou professores eméritos.”
Entre os pontos analisados, José Carvalho afirma estar a universidade submetida a um padrão eurocêntrico e monoepistêmico de conhecimento que, combinado com a prática de exclusão por classe, raça e etnia, se retroalimentam, sem mudança significativa, ao longo de todo o século XX.
Do mesmo modo, deixa claro que a exclusão dos mestres e mestras dos saberes tradicionais do quadro de docentes das nossas universidades não ocorre por razões de incapacidade epistêmica, científica ou humanística, mas por razões estritamente políticas (sociais, étnicas e raciais).
Para tanto, deverão superar entraves institucionais e burocráticos e resolver questões conceituais que permitam incorporar, assimilar e validar os saberes não ocidentais de tradição predominantemente oral, os quais se baseiam em outras epistemologias distintas da epistemologia científica ocidental moderna, que depende essencialmente da escrita especializada
Uma proposta de resolução dessa crise epistêmica surgiu em 2005 e 2006 com os dois Seminários de Políticas Públicas para as Culturas Populares, organizados pelo Ministério da Cultura, ocasião em que os mestres e mestras tradicionais demandaram o direito de serem incluídos como docentes no ensino formal. Foi nesse contexto de reivindicação direta dos mestres que o INCT de Inclusão formulou, em 2010, com apoio do Ministério da Cultura, o projeto Encontro de Saberes.
Paralelamente, conhecemos Antonio Bispo dos Santos, também conhecido como Nego Bispo ou Mestre Bispo. Nascido no Piauí, foi filósofo, poeta, escritor, professor, líder quilombola e ativista político brasileiro, pensou a realidade brasileira de tantos “brasis” existentes dentro do país, com suas diversidades culturais ignoradas oficialmente da cultura. Sua concepção de conhecimento – de como se adquire e se transmite – nada tem a ver com a academia. É democrática, abrangente e genuína, gerando conhecimento por meio de costumes, tradições, receitas familiares, saberes indígenas, quilombolas, das tradições afro-brasileiras, artesanato, entre outros saberes populares orgânicos.